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Coletânea "Contagem Regressiva", conheça os escritores selecionados.

Atualizado: 24 de ago.

Contagem Regressiva, coletânea de contos

Atualização (24/08/2025)

Projeto editorial finalizado e disponível na loja da Uiclap:



A chamada para publicação na coletânea de contos "Contagem Regressiva", do nosso Coletivo Literário Aspas Duplas, foi um grande sucesso. O edital ficou aberto de março a junho de 2025 e reuniu nada menos do que 22 pessoas interessadas. Agora, a obra entrou em fase de edição. Enquanto isso, segue abaixo a "apresentação" que irá constar no livro impresso, que por sinal está ficando lindo demais.


Vale lembrar que todos os projetos editorias do Coletivo Aspas Duplas (exceto a nossa revista literária) são exclusivamente impressos. Este, em especial, terá impressão brochura, P&B, com tamanho 14cm x 21cm; miolo em papel Avena off-white (creme), 80g/m² similar ao Pólen; capa colorida em laminação fosca; ficha catalográfica e ISBN.


Coletânea impressa de contos "Contagem Regressiva"
Coletânea de contos "Contagem Regressiva", do Coletivo Aspas Duplas.

Apresentação


Nesta coletânea pulsante, você, leitor, irá se deliciar com vinte e dois contos incríveis sobre ele: o tempo. Em especial, aquele que se esvai, escorre, escapa. São vinte e dois escritores de diferentes cantos do Brasil reunidos para explorar o instante que antecede o fim — seja ele súbito ou sutil, trágico ou trivial.


Em cada conto, o tempo é o verdadeiro protagonista: ora uma ampulheta prestes a esvaziar, ora um relógio desgovernado em um mundo que já não conta mais os segundos como antes.

Há quem fale do silêncio que antecede a última palavra.

Há quem narre o caos dos derradeiros minutos.


Alexandre Fleury é quem abre esta coletânea com um conto que cheira a pão fresco, quentinho e saído do forno. Entre cartas não enviadas e receitas já conhecidas, Rodolfo, personagem principal, amassa a ausência com mãos firmes e descobre que é no tempo e no silêncio que a vida também cresce e se cura. Na sequência, nos deparamos com a subjetividade narrativa de Calíope — ou melhor, Lara Passini Vaz-Tostes —, cujo conflito interno de sua protagonista pode acertar em cheio leitores mais suscetíveis, também ansiando por escutar a melodia do desconhecido, entregando-se ao risco de ver o mundo com novos olhos. E o que dizer de Carina Carlan? Há textos que não se leem com os olhos — velhos ou novos —, mas se percorrem com os pés, com o fôlego, com o coração que pulsa em ritmo de treino e entrega. Em seu conto, acompanhamos uma mulher que escolhe sentir o mundo passo a passo, como quem costura sentido na constância. Não é sobre corrida, ainda que ela corra — é sobre presença. Já o futuro distópico imaginado por Claudio Ventura, um verdadeiro mestre da ficção científica, vem no vácuo dessa corredora e nos surpreende com um interessante e curioso sistema de contagem, que — inclusive — nos faz viajar para lugares longínquos, tão distantes quanto o de Dona Judite, escrito por CS Barra, que cultiva lembranças como quem planta eternidade. O tempo, domado por um relicário enferrujado, devolve-lhe um amor, um instante, um baile de junho. E, quando o tic-tac silencia, ela já está onde o coração sempre quis morar: no eterno do que se sentiu.


Cyro Eduardo, por sua vez, traz uma espera que atravessa a madrugada, recheada de medos, ensaios e esperança. Entre devaneios, cochilos e chicletes, o amor parece distante — até chegar, sorrindo. E, como em um sonho bom, o real se veste de encanto e finalmente acontece. Já em O relojoeiro da rua, Daniel Soares Filho apresenta “seu Tim”, guardião das horas, que encerra seu próprio ciclo com a precisão de um relógio bem regulado, fazendo-nos crer que, na relojoaria do mundo, até o tempo se despede em silêncio. Danielle Buna, em seu pequeno conto-relato, nos traz uma revelação encantadora: entre sombras e silêncios, nossa alma pode escutar o tempo sussurrando ritos de passagem. Não é medo, é magia! Cinquenta anos que, nesse caso, dançam feito jasmim, manifestando que mistério também é celebração — além de amor-próprio. Falando em amor, Dau Queiroz revela que esse sentimento, quando verdadeiro, atravessa o tempo e os pactos da realidade. Sua personagem Cora é um belo exemplo disso, partindo como viveu: em sonho, em poesia, em afeto absoluto — deixando na pele do mundo o calor de um último abraço. Fernanda Pires Sales transita praticamente por essas duas vertentes em Um segredo no sofá, explorando de forma inusitada a euforia de uma adolescente assanhada pelo universo adulto, com seus segredos e prazeres, colocando dona Elvira, a mãe da garota, em uma saia justa em pleno Réveillon. Sem pedir licença, Gabriel Geovane quebra o ritmo das narrativas anteriores com uma distopia onde o apocalipse é pano de fundo para um vínculo entre pai e filha. Entre sangue, sobrevivência e silêncio, o amor ainda tenta gritar. E o fim do mundo, no fim — ainda que angustiante — é apenas o início de um outro tempo.


Até aqui, já deu para notar que se tratam de vozes potentes e singulares. Eu, particularmente, sinto-me privilegiado por fazer parte deste projeto e ter a oportunidade de reunir e organizar todas essas histórias tão pungentes e cheias de significado, de autores e autoras tão diversos, cada qual com seu estilo único e seu amor pela literatura. E os contos aqui reunidos continuam…


A narrativa densa, poética e com nuances filosóficas de J. Oliveto é, sem dúvida, um brinde à escrita. O diálogo entre dois inusitados personagens revela passado, culpa, vaidade, solidão e um certo desejo por redenção — ou, pelo menos, por compreensão. Adorei o desfecho! Tive a sensação de também estar saboreando uma taça de vinho; só que, em vez de Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Syrah, um blend com Stephen King, Edgar Allan Poe e o escritor brasileiro Raphael Montes (nossa casta tupiniquim). Tim-tim! Já o tom irônico e quase debochado do jovem aspirante a escritor João Guilherme Guedes aparece em uma história bem-humorada sobre a doutora Analice, uma personagem fictícia genial, enigmática e eficiente, vendedora do Prêmio Nobel da Paz não por uma descoberta científica tradicional, mas por sua gestão radical do tempo. A trama satírica mistura exageros, ironias e momentos quase poéticos para brincar com a ideia de que a verdadeira revolução está na forma como usamos nossos minutos. Junior Mendes, por outro lado, adota um viés mais onírico e sombrio em O lago, com metáforas sobre memória, desejo, ruína e loucura; com personagens obcecados que afundam gradualmente em um ciclo de compulsão, perda de identidade e contaminação — tanto física quanto psíquica. O lago não guarda só coisas: ele engole vontades e devolve sombras. Ali, o tempo escorre lamacento, puxando para si o que é e o que foi. Busca-se o que se perdeu, mas encontra-se o que nunca deveria ter sido achado.


Ainda sobre perdas e encontros, seguimos com um relato íntimo e tocante sobre o doloroso processo das despedidas. Em um testemunho comovente e repleto de compaixão, a sensibilidade de Laís Nunes, ao narrar com ares de resignação a partida de mais uma de suas gatinhas, nos faz refletir sobre como é duro ter que aceitar o inaceitável. Monet partiu nos braços de quem mais a amava, silenciosa como uma nuvem que se desfaz no céu. E deixou, em troca, um novo jeito de viver o amor — antes descoberto apenas por Laís, mas agora também pelos leitores e leitoras, que sempre encontrarão Monet imortalizada nas páginas desta coletânea. Páginas essas que continuam pelo mesmo caminho perene da sensibilidade, onde Luiza Passini Vaz-Tostes, irmã gêmea de Lara (presente nesta coletânea sob o pseudônimo de Calíope), nos apresenta um texto que trata com delicadeza o redescobrimento da vida no fim da vida. Inspirado por Mário Quintana, o tempo que escorria amargo aprendeu, por fim, o sabor do doce. Às vezes, basta uma voz pequena do outro lado da linha para despertar um mundo inteiro adormecido. E a vida, enfim, começa a acontecer. Com uma bela arte narrativa correndo nas veias, as irmãs gêmeas Luiza e Lara Vaz-Tostes provam que o amor pela literatura começa em casa, com a família — e, nesse caso, em dose dupla; e que tal influência tem um imenso poder transformador. Agradecemos ao papai Vaz-Tostes por isso. Márcia Del Fiore também deixa parte de seu legado por aqui com uma crítica à inércia frente à crise climática e à fé cega na tecnologia como salvação da humanidade. A trama distópica com tons de crônica futurista, apresentada de forma muito original pela autora, é dividida em três momentos: o colapso ambiental da Terra, a vida confinada em um bunker e uma crise de identidade coletiva provocada por uma descoberta surreal. Jovens que decidem desafiar o confinamento em busca da verdade e da possibilidade de um novo começo, mesmo diante do risco, reforçam um importante pormenor: na beira do abismo digital, o que resta não é o medo — mas a fome da verdade.


E quantos outros Pormenores não existem por aí? Tão promissores quanto o que foi criado por Maurício Lucas. A trajetória trágica de um jovem corrompido pelo sistema nos leva a crer que é só mesmo uma questão de tempo para que o inevitável aconteça, destruindo sonhos e marcando vidas. Seca e direta ao ponto, a história mistura drama social, denúncia moral e redenção por meio da amizade e da busca por justiça. Drama também é o que o leitor encontrará no relato autobiográfico profundamente honesto de Ornélia Goecking Otoni, que se despe em palavras para compartilhar a própria história, marcada por rebeldia e negação, reforçando o fato de que a vida se equilibra entre dois eixos: ação e reação, causa e consequência. O texto percorre sua dor, seu luto, sua superação e seu renascimento interior. Hoje, ela escreve, estuda, viaja e vive com um novo significado de liberdade. Um belo exemplo de transformação e força.


Histórias e personagens fortes realmente não faltam nesta coletânea. Patrícia Roberta Xavier, por exemplo, aborda, com extrema sensibilidade e tensão dramática, a história de um garoto vítima de abuso sexual que elabora um plano minucioso para denunciar o vizinho, seu agressor. Entre ódio, desejo de vingança e profunda dor, o texto conduz o leitor até o momento do flagrante que comprova a denúncia, trazendo à tona a dor ignorada pelos próprios pais do menino. Sem dúvida, um relato ficcional disfarçado de “tapa na cara” da sociedade — ou o contrário. Já Ricardo Pegorini nos conduz de forma magistral às últimas páginas desta obra com ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Tempo a caminhar ao lado de seu narrador. Como dito anteriormente, o verdadeiro protagonista de muitos desses enredos. Sua história é uma alegoria filosófica e poética sobre a finitude da vida. Uma reflexão que atravessa temas como sonhos, memória, humanidade, vaidade, razão e emoção — culminando no encontro com a Morte e no acolhimento do sono eterno.


Por fim, Rita encerra essa nossa jornada juntos (de autores e leitores) com um último conto cujo título não poderia ser mais propício: Contagem Regressiva, nome desta coletânea. Rita, na verdade, é o pseudônimo de Kelly Mendonça Pereira, que conta os dias como quem conta os estilhaços da alma. Sua narrativa profunda acompanha uma mulher em contagem regressiva para um fim indefinido — talvez emocional, talvez físico — enquanto lida com a dor silenciosa, o colapso interno e a exaustão existencial. O texto é um mergulho sensível na depressão, no luto por si mesma e na sobrevivência, ainda que apática. Um retrato cru de alguém que (como muitos) resiste, mesmo sem forças, porque ainda não foi capaz de partir. Sua personagem sobrevive ao fim — não por querer, mas por ainda estar, evidenciando que, muitas vezes, continuar dói mais do que partir.


Concluo esta apresentação me apropriando de alguns dos mesmos elementos trazidos por Rita. Licença poética à parte, nós, do Coletivo Literário Aspas Duplas, nos solidarizamos com o sentimento frustrante da personagem frente a um existir sem sentido; e é justamente a Literatura, essa maravilhosa arte narrativa, que nos dá sentido para tal existência. Por meio dela, somos muitos, somos livres — e sobrevivemos. Menos apáticos, eu diria. Este livro não nos deixa mentir. Não há barreiras geográficas, fronteiras políticas ou limitações físicas que nos segurem. O poder da escrita é muito maior que simplesmente “transformador”, como se isso fosse pouco. Ele transcende a alma, eterniza o espírito. É um legado que — surpreendentemente — nem mesmo o Tempo, descrito aqui de muitas formas, é capaz de derrotar. Sendo assim, só me resta uma coisa a dizer, ou melhor, a escrever:


Viva a Literatura!



Lista de autores (por ordem alfabética):


  1. Alexandre Fleury, Até que estive pronto;

  2. Calíope, A porta;

  3. Carina Carlan, Antes do corpo: os dias e minutos que antecedem a corrida de uma maratona;

  4. Claudio Ventura, 54 segundos;

  5. CS Barra, A semente e o tempo;

  6. Cyro Eduardo, Até às duas;

  7. Daniel Soarea Filho, O relojoeiro da rua;

  8. Danielle Buna, Cinquenta sussurros;

  9. Dau Queiroz, Cora;

  10. Fernanda Pires Sales, Um segredo no sofá;

  11. Gabriel Geovane, Em cima da hora;

  12. J. Oliveto, Doze horas;

  13. João Guilherme Guedes, Método Analice;

  14. Junior Mendes, O lago;

  15. Laís Nunes, O céu de Monet;

  16. Luiza Passini Vaz-Tostes, Café amargo;

  17. Marcia Del Fiore, O pior dos mundos;

  18. Maurício Lucas, Aquele Pormenor;

  19. Ornélia Goecking Otoni, Os caminhos do infinito;

  20. Patrícia Roberta Xavier, Minutos de revanche;

  21. Ricardo Pegorini, O tempo de cada um e o tempo de todos nós;

  22. Rita, Contagem regressiva.


Entre o cotidiano e o extraordinário, entre o suspiro e a explosão, Contagem Regressiva é um convite à leitura como quem observa a linha tênue entre o agora e o nunca mais. Porque tudo tem um fim. Mas antes, sempre há uma história.




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